12th jul2014

Porque não!

by Biattrix

Quando eu era criança, lembro que odiava ouvir a resposta sem nexo: – porque não!

Eu simplesmente não entendia o motivo daquele final infeliz e sem negociações. Eu tinha tantos argumentos e nenhum era ouvido. Não me lembro quantas vezes jurei, enfurecida, que nunca, em tempo algum, repetiria esse erro com meus filhos! Tal qual a dramática Scarlett O’Hara, eu secava minhas lágrimas e dizia: Com Deus por testemunha, eu nunca mais passarei fom… quer dizer, eu nunca direi ‘porque não’ aos meus filhos! (Mas confesso que E O Vento Levou nunca foi meu filme referencial.)

João nasceu, cresceu e começou a aprontar das suas. E não é que me vejo a dizer porque não e alguns momentos. Até ser “acordada” por ele. (Aqui cabe um belo par de parênteses:  essa pessoinha em muitas vezes das minhas viagens egóicas penso ter vindo ao mundo só para me fazer uma pessoa melhor – viram como sou egoísta?).

Estávamos no banheiro, ele no chuveiro, eu apoiada na pia, o esperando terminar o banho. Ele me pedia algo, que não me recordo. Lembro apenas da resposta: “não. Não, porque não”. Daí ele me pergunta: – mas por que não? Sua carinha ao fazer isso continha todas as minhas dúvidas infantis. Voltei no tempo. Senti todas aquelas minhas angustias, as incertezas e o pior: me sentia incapaz de argumentar, embora todos os argumentos estivessem ali, na minha mente.

Naquele momento, nada mais importava, só o meu filho e aquele juramento à la O’Hara. Esqueci das horas e dos compromissos, me sentei e pedi desculpas pelo apressado da resposta fácil. Foi então que expliquei a origem dos meus Porque não.

O diálogo que se seguiu (um monólogo, pra dizer a verdade) foi mais ou menos assim:

– João, eu te entendo e já passei por isso. Quando tinha a sua idade, também odiava ouvir essa resposta! Mas agora, como sua mãe, eu preciso te contar uma coisa – muitas vezes eu vou precisar dizer isso pra você! E você vai precisar confiar em mim!

Às vezes, eu respondo porque não porque estou sem paciência para te dar uma resposta maior, ou sem tempo, ou os dois…

Ou você está em uma situação de risco, e eu preciso ser rápida. Ou ainda, com a minha experiência, eu consigo ver as consequências da ação que você quer tomar, mas não tenho como te explicar na hora e é mais fácil dizer porque não. Por isso eu te peço para confiar em mim.

Muitas vezes também você não tem como entender ou não pode saber, por conta da sua idade, filho. Há uma idade para tudo nessa vida… como também pode não ser o local mais adequado ou a companhia. São tantos os fatores! E explicar isso no momentinho da pergunta fica difícil! É mais simples ir direto ao porque não. Entende?

Na relação mãe e filho é muito importante ter confiança - dos dois lados: você confiar em mim, que vou fazer as melhores escolhas para você; e eu, filho, também vou confiar em você!

Eu ainda vou responder muitos “porque não” para você. Mas eu prometo (olha a O’Hara de novo!) que sempre vou dar um jeito de te explicar da melhor forma possível – se não na hora, quando puder.

Por incrível que pareça, João me ouviu calado e atento. No final, ele me abraçou e falou: – agora eu entendi. Não vou ficar mais chateado quando você responder assim.

Meu filho só tem 8 anos. Mas já vejo os sinais de que escolhi uma boa maneira de educá-lo: o diálogo franco.

 

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