Educar, sem limitar
Todos nós precisamos de limites. E é de nossa natureza testar e expandir tais limitações. É assim que aprendemos, não?
Quero que meu filho tenha limites claros, bem estabelecidos, fortes o bastante, sem que sejam enraizados, instransponíveis, castradores.
E aí, como se faz?
Há tempos, João ainda era um bebezinho [cá entre nós, para mim, ele sempre será!], vi uma matéria ou entrevista, não lembro – acho que no Alternativa Saúde, do GNT – sobre empreendedorismo. Nela, um cidadão falava que todos, eu disse TODOS, nós nascemos empreendedores. O que define, potencializa ou anula essa habilidade é a educação recebida nos sete primeiros anos de vida [assustador isso, não? Para mim, foi!]. E deu um exemplo claríssimo: uma ação corriqueira pode dar a segurança necessária para que tal habilidade se desenvolva melhor. Essa ação? Preparar o próprio café da manhã. A criança, ao preparar seu achocolatado de todo dia, por exemplo, precisa pensar nas etapas envolvidas, separar os ingredientes, seguir uma “receita”…Para a criança, essa simples tarefa envolve muitas etapas:
– Separar o copo e colheres
– Pegar o leite na geladeira, ou preparar o leite em pó
– Pegar o achocolatado no armário
– Dosar o leite e o chocolate
– Misturar tudo, tomando cuidado para não entornar
E é uma festa! Ao fazer tudo isso, ela começa a treinar a cabecinha para os negócios! [Aí vem o pior!] Se nessa hora algo dá errado e você, com pressa porque tem que trabalhar, tentar tomar as rédeas e deixa escapar um “olha o que você fez!” ou “Você não sabe fazer nada”… tsc, tsc, tsc. Isso fica gravado no íntimo, lá no âmago. De tanto se repetir, em várias ações ou tentativas, chega a hora a criança cresce, mas não esquece. Pode até não se dar conta do estrago. Ela passa a acreditar piamente que não serve para muita coisa, que sempre faz tudo errado. E um dia, para de tentar, se acomoda e esquece da festa que é fazer algo novo e desafiador.
Eu já caí nesse erro. Diante de um copo derramado, tudo sujo, relógio apontando o atraso, eu briguei com o João, falei alto até… acho que foi um “tá vendo!”. Aí o programa se reprisou inteirinho em cinco nanossegundos na minha mente. Ao ver meu filho com uma carinha assustada, eu abaixei, fiz questão de estar na mesma altura dele e, olho no olho, pedi desculpas. Disse que aquilo acontecia e que não tinha problema. Que rapidinho limparíamos tudo e recomeçaríamos. E prometi que seria uma festa! Incrementei o café e o coloquei para pegar tudo o que precisávamos. A alegria dele foi enorme. E a minha também.