13th ago2010

Educar, sem limitar

by Biattrix

Todos nós precisamos de limites. E é de nossa natureza testar e expandir tais limitações. É assim que aprendemos, não?

Quero que meu filho tenha limites claros, bem estabelecidos, fortes o bastante, sem que sejam enraizados, instransponíveis, castradores.

E aí, como se faz?

Há tempos, João ainda era um bebezinho [cá entre nós, para mim, ele sempre será!], vi uma matéria ou entrevista, não lembro – acho que no Alternativa Saúde, do GNT – sobre empreendedorismo. Nela, um cidadão falava que todos, eu disse TODOS, nós nascemos empreendedores. O que define, potencializa ou anula essa habilidade é a educação recebida nos sete primeiros anos de vida [assustador isso, não? Para mim, foi!]. E deu um exemplo claríssimo: uma ação corriqueira pode dar a segurança necessária para que tal habilidade se desenvolva melhor. Essa ação?  Preparar o próprio café da manhã. A criança, ao preparar seu achocolatado de todo dia, por exemplo, precisa pensar nas etapas envolvidas, separar os ingredientes, seguir uma “receita”…Para a criança, essa simples tarefa envolve muitas etapas:

– Separar o copo e colheres
– Pegar o leite na geladeira, ou preparar o leite em pó
– Pegar o achocolatado no armário
– Dosar o leite e o chocolate
– Misturar tudo, tomando cuidado para não entornar

E é uma festa! Ao fazer tudo isso, ela começa a treinar a cabecinha para os negócios! [Aí vem o pior!] Se nessa hora algo dá errado e você, com pressa porque tem que trabalhar, tentar tomar as rédeas e deixa escapar um “olha o que você fez!” ou “Você não sabe fazer nada”… tsc, tsc, tsc. Isso fica gravado no íntimo, lá no âmago. De tanto se repetir, em várias ações ou tentativas, chega a hora a criança cresce, mas não esquece. Pode até não se dar conta do estrago. Ela passa a acreditar piamente que não serve para muita coisa, que sempre faz tudo errado. E um dia, para de tentar, se acomoda e esquece da festa que é fazer algo novo e desafiador.

Eu já caí nesse erro. Diante de um copo derramado, tudo sujo, relógio apontando o atraso, eu briguei com o João, falei alto até… acho que foi um “tá vendo!”. Aí o programa se reprisou inteirinho em cinco nanossegundos na minha mente. Ao ver meu filho com uma carinha assustada, eu abaixei, fiz questão de estar na mesma altura dele e, olho no olho, pedi desculpas. Disse que aquilo acontecia e que não tinha problema. Que rapidinho limparíamos tudo e recomeçaríamos. E prometi que seria uma festa! Incrementei o café e o coloquei para pegar tudo o que precisávamos. A alegria dele foi enorme. E a minha também.

4 Responses to “Educar, sem limitar”

  • Oi, mãe do João. rsrs… Tudo bem?
    Em primeiro lugar, parabéns pelo blog. Adorei a ideia e como pai que não vive com a filha todos os dias, procuro aproveitar cada segundo que tenho com ela. Lendo o teu post da menina do achocolatado, lembrei de uma situação que rolou comigo e minha filhota.
    Ela queria assistir a um DVD comigo e com minha atual esposa. Tranquilo. Peguei o DVD e falei “vamos assistir?” Ao que ela respondeu: “não, pai. Primeiro temos que fazer a lista”. Que lista? Perguntei. “A lista dos preparativos.” Eu ri muito.
    Pra encurtar, o que ela queria fazer era um checklist com tudo necessário para uma boa sessão de cinema em casa: pipoca, coca-cola, cobertor (estava frio) e obviamente o filme.
    Levou um tempo pra ela fazer a lista. Acabou caindo no sono no meio do filme. Mas, fiquei feliz porque esse senso de organização foi mostrado por ela de uma forma espontânea. Percebi isso e vou procurar investir para que ela sempre se prepare para as situações. Claro que nem sempre isso é possível, nem pra nós mesmos, mas vale a pena investir.
    Mais uma vez, parabéns pela ideia. Bjs pra vc e João.
    Fábio.

    • Biattrix

      Fábio, essas pessoinhas são incríveis, não?
      Obrigada pela visita, pelo apoio e por dividir sua história.
      Beijo!

  • Marisa Lemos

    Bia,

    Estabelecer limites é super complicado, né? Pra mim essa preocupação está presente desde sempre, mas aumentou depois que meu príncipe começou a andar, já que ela também serve para as descobertas “físicas”, não só as intelectuais.
    Penso sempre em não limitar as aventuras do filhote, mas como ele tem menos de 2 anos, fico também sempre na dúvida o quanto não limitar não põe em risco sua segurança. Ele é muito curioso, quer mexer em tudo, e ainda não tem medo. O que é bom e ao mesmo tempo é ruim, eu acho. Não quero criar alguém com medo de tudo, e nem com medo de nada. Como ensinar a ser precavido nas horas certas? Em que idade começar?

    Ele agora resolveu descer da cama do irmão – que é baixinha – de ponta-cabeça. Na primeira vez eu quis frear, o maridão logo disse: deixa! E eu pensei que se ele faz aqui – que dá pra fazer sem problemas, porque as mãozinhas logo chegam ao chão para apoiar – vai querer fazer em outros lugares. Batata, hoje já quis descer do mesmo modo do sofá, que é bem mais alto, e quase deu uma cambalhota. Conheço meu pequeno aventureiro! rsrs

    Ao ler seu post fiquei pensando no quanto isso se complica mais no futuro, quando as descobertas são maiores e precisam ser incentivadas. Sempre achei a curiosidade e a iniciativa duas imensas qualidades, e quero muito que meu filho as tenha. Mas para isso, a nossa responsabilidade enquanto mães e pais é cultivar essas características, sem nos deixar levar pela impaciência ou por nossos próprios medos.

    Bom, ninguém nunca disse que seria fácil… 🙂

    bjs!
    Marisa

  • lavinia

    Adorei!!
    Muitos beijinhos e muitos sorrisos!!
    tia lavinia

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