25th ago2015

Negociação

by Biattrix

– Mãe, eu vou falar uma coisa agora, e nunca mais – até janeiro – eu repito isso! Nunca mais, até janeiro, tá? Você decide, ok? Então tá: posso jogar uma horinha?

20th maio2015

É uma droga, viu?!

by Biattrix

Ontem, a caminho da escola, João e eu conversávamos sobre drogas. Não me lembro o como ou o porquê da conversa começar… tentei falar abertamente sobre o que conheço, com informações suficientes para uma criança de 9 anos, super curiosa e atenta.

O triste é que nosso papo foi ilustrado por uma cena em tempo real: quatro meninos, entre seis e oito anos, talvez, brincavam na praça, em frente ao Edifício Argentina, com uma bicicleta menor que qualquer um deles. Todos carregavam uma garrafinha de água mineral com… solvente.

Edificio-Argentina

Praça em frente ao sinal do Edifício Argentina, em Botafogo.

João observou a cena por tempo suficiente para vê-los repartindo a droga (um dos meninos carregava duas garrafas – uma cheia de solvente e a outra com dois dedinhos do produto). Todos tinham os seus dois dedos de solvente.

É claro que João me perguntou o porquê deles usarem a droga.

Ah, meu filho… são tantas as respostas. E nenhuma é muito fácil ou simples. Eles usam drogas para esquecerem a vida que levam, a violência em casa, ou a falta de uma casa. Usam para matar a fome. Para trazer mais cor ao dia. Para aliviar a dor das porradas. Para esquecer quem são. Para inventarem outra vida… A realidade da família, para eles, é outra bem diferente da nossa. Amor de mãe, de pai, de avó ou tios… não sei se eles sabem o que é isso.

O cuidado passa a ser o instinto de sobrevivência. Cada um por si. Só por hoje. O depois a gente vê, depois. Nem sonhos eles têm. Com o tempo, muitos perdem até a capacidade de sonhar, como alguém um dia comentou comigo e eu, incrédula, chorei.

Ao ver a carinha de interrogação do meu filho, senti como se ele me perguntasse o que eu poderia fazer. Ele ficou sem repostas. Eu queria sair do carro e ir até lá conversar com aqueles meninos, dar um abraço, pagar o almoço… não sei porque não fiz isso. O sinal abriu e os compromissos do dia já estavam gritando.

Sem poder evitar, me sinto egoísta e suja por ser tão omissa. O que fazer?

03rd dez2014

Uma matéria interessante

by Biattrix

João já vai fazer 9 anos! Daqui a 102 dias, para ser bem precisa, meu bebê vai completar nove anos. É claro que ele não é mais um bebê, e em nada se assemelha a um – só mesmo na cabeça doida de mãe (na minha!), que cisma em chamar um pré-adolescente de bebê, como forma distorcida de carinho (mas isso é papo para outro post).

Bem, deixa eu repetir para me acostumar com a ideia: João vai fazer 9. Passou para o 4º ano do Ensino Fundamental! Tem respostas para tudo e cisma em dar a palavra final.

Daí hoje abro o Facebook e me deparo com uma matéria da BBC Brasil que me grita algo que sempre pensei: “Eu me recuso a ser a assistente pessoal da minha filha“. Se você, assim como eu, tiver a curiosidade e quiser ler direto da fonte, vai lá conhecer o Blog da Noelia.

 

‘Eu me recuso a ser assistente pessoal da minha filha’

Quando a espanhola Noelia Lopez-Cheda passou a participar de um grupo de Whatsapp entre os pais dos colegas de escola de sua filha, ela achou que seria uma ótima ideia.

Alguns meses depois, estava totalmente arrependida. Ela decidiu sair do grupo – e seu relato sobre os motivos que a fizeram mudar radicalmente de ideia virou um sucesso na internet.

Mas o que aconteceu?

“Pensei que seria uma boa forma de ficar em contato com os outros pais e saber de atividades, notícias e eventos importantes”, disse Noelia à BBC.

“Para muitos pais ocupados, era uma forma de economizar tempo”.

Mas logo o grupo “virou um monstro”, segundo ela. Noelia passou a viver em meio a um turbilhão de mensagens sobre deveres de casa, leituras recomendadas e notas de provas.

O telefone apitava a noite toda, e a memória do celular de Noelia foi em boa parte consumida pelo grande volume de mensagens sobre a vida escolar de sua filha, Emma.

Até que, em certo dia, Noelia diz ter “visto a luz”.

Ela havia acabado de chegar em casa do trabalho quando Emma, na época com 9 anos, disse que havia esquecido de trazer para casa o dever de matemática e pediu para a mãe pedir uma cópia dos exercícios pelo grupo de Whatsapp.

Noelia pegou o telefone imediatamente e começou a escrever uma mensagem, mas parou subitamente.

“Olhei para o celular e pensei: ‘O que estou fazendo? Chega'”, ela conta.

Consequências

Apesar da reclamação de sua filha, a menina teria que ir para a escola no dia seguinte com as mãos abanando e enfrentar a consequência de ter esquecido de levar o dever para casa.

“Eu me recuso a ser a agenda escolar da minha filha por meio de um grupo de Whatsapp. Eu me recuso a ser quem faz seu dever de casa. Eu me recuso a voltar a ser uma estudante e eu me recuso a ser superprotetora a ponto de assumir as responsabilidades da minha filha”, ela disse neste dia no Facebook, onde o post recebeu muitos comentários dos amigos.

Um deles sugeriu que ela criasse um blog para falar sobre o assunto. O primeiro texto fez sucesso instantaneamente.

“Em duas horas, foi visto por 11 mil pessoas. No dia seguinte, já eram mais de 100 mil. E ultrapassou 500 mil no fim de semana”, ela diz.

Até agora, o blog já recebeu mais de 1 milhão de visitas. Nele, Noelia diz que muitos pais se tornaram assistentes pessoais de seus filhos e que isso é errado.

“Passei a fazer o blog porque estava muito preocupada com milhas filhas e o fato delas não serem proativas. É um problema muito comum nas empresas para as quais dou palestras. Nelas, as pessoas esperam receber instruções em vez de terem iniciativa”, afirma Noelia à BBC.

Noelia também tem seus críticos. Nos comentários nas redes sociais e no seu blog, algumas pessoas se manifestaram contra sua opinião e a consideraram uma “péssima mãe”.

Mas ela diz que a maioria das reações são positivas.

“Deve ser algo bem comuns nas famílias que tem crianças em idade escolar, porque muitas mães disseram se identificar comigo, com o que digo. Elas sabem que superptoteção pode ser um problema. Ajudei a tirar algumas dúvidas, e acho que é daí que vem o sucesso.”

Engraçado que ontem mesmo eu conversava sobre o assunto com a Luanda, minha cunhada e mãe da minha afilhada Manuela, de 2 anos: muitos pais piraram com as ferramentas online hoje disponíveis (whatsapp principalmente). Grupos de pais em whatsapp são sempre uma loucura e raras as vezes dão certo! Sei de várias brigas começadas por má interpretação de mensagens…

Mas a questão aqui é outra: eu (também) me recuso a ser a assistente pessoal do João. Sempre foi assim. Tenho um papel importante e muito difícil a desenvolver: ser a mãe do João.  Gente, é complicado – mas é a tarefa que sempre quis pra mim.

12th jul2014

Porque não!

by Biattrix

Quando eu era criança, lembro que odiava ouvir a resposta sem nexo: – porque não!

Eu simplesmente não entendia o motivo daquele final infeliz e sem negociações. Eu tinha tantos argumentos e nenhum era ouvido. Não me lembro quantas vezes jurei, enfurecida, que nunca, em tempo algum, repetiria esse erro com meus filhos! Tal qual a dramática Scarlett O’Hara, eu secava minhas lágrimas e dizia: Com Deus por testemunha, eu nunca mais passarei fom… quer dizer, eu nunca direi ‘porque não’ aos meus filhos! (Mas confesso que E O Vento Levou nunca foi meu filme referencial.)

João nasceu, cresceu e começou a aprontar das suas. E não é que me vejo a dizer porque não e alguns momentos. Até ser “acordada” por ele. (Aqui cabe um belo par de parênteses:  essa pessoinha em muitas vezes das minhas viagens egóicas penso ter vindo ao mundo só para me fazer uma pessoa melhor – viram como sou egoísta?).

Estávamos no banheiro, ele no chuveiro, eu apoiada na pia, o esperando terminar o banho. Ele me pedia algo, que não me recordo. Lembro apenas da resposta: “não. Não, porque não”. Daí ele me pergunta: – mas por que não? Sua carinha ao fazer isso continha todas as minhas dúvidas infantis. Voltei no tempo. Senti todas aquelas minhas angustias, as incertezas e o pior: me sentia incapaz de argumentar, embora todos os argumentos estivessem ali, na minha mente.

Naquele momento, nada mais importava, só o meu filho e aquele juramento à la O’Hara. Esqueci das horas e dos compromissos, me sentei e pedi desculpas pelo apressado da resposta fácil. Foi então que expliquei a origem dos meus Porque não.

O diálogo que se seguiu (um monólogo, pra dizer a verdade) foi mais ou menos assim:

– João, eu te entendo e já passei por isso. Quando tinha a sua idade, também odiava ouvir essa resposta! Mas agora, como sua mãe, eu preciso te contar uma coisa – muitas vezes eu vou precisar dizer isso pra você! E você vai precisar confiar em mim!

Às vezes, eu respondo porque não porque estou sem paciência para te dar uma resposta maior, ou sem tempo, ou os dois…

Ou você está em uma situação de risco, e eu preciso ser rápida. Ou ainda, com a minha experiência, eu consigo ver as consequências da ação que você quer tomar, mas não tenho como te explicar na hora e é mais fácil dizer porque não. Por isso eu te peço para confiar em mim.

Muitas vezes também você não tem como entender ou não pode saber, por conta da sua idade, filho. Há uma idade para tudo nessa vida… como também pode não ser o local mais adequado ou a companhia. São tantos os fatores! E explicar isso no momentinho da pergunta fica difícil! É mais simples ir direto ao porque não. Entende?

Na relação mãe e filho é muito importante ter confiança - dos dois lados: você confiar em mim, que vou fazer as melhores escolhas para você; e eu, filho, também vou confiar em você!

Eu ainda vou responder muitos “porque não” para você. Mas eu prometo (olha a O’Hara de novo!) que sempre vou dar um jeito de te explicar da melhor forma possível – se não na hora, quando puder.

Por incrível que pareça, João me ouviu calado e atento. No final, ele me abraçou e falou: – agora eu entendi. Não vou ficar mais chateado quando você responder assim.

Meu filho só tem 8 anos. Mas já vejo os sinais de que escolhi uma boa maneira de educá-lo: o diálogo franco.

 

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