06th fev2012

Primeiro ano do Ensino Fundamental

by Biattrix

Amanhã, dia 6 de fevereiro de 2012, João vai para uma nova escola.

Assim começa uma nova fase.

Meu pequeno-príncipe cresce rapidamente, como nunca pensei. (Não era eu quem reclamava do tempo se arrastando? Sim… eu já fui dessas. Não tinha paciência para nada. Não curtia esperar. Queria tudo para ontem. E o tempo, relativo, era hiperlativo em sua lentidão).

Vai para o seu primeiro ano do Ensino Fundamental. Nesta última semana de férias, oscilou entre a ansiosa alegria da mudança e a angustiante limitação da insegurança: “mamãe, acho que não estou pronto para a nova escola”. Para a minha tranquilidade, a alegria é bem maior (dei uma forcinha customizando seu material com os personagens favoritos: os Jedis!).

João vai chegar na escola já sabendo ler quase tudo. O pequeno não só junta lé com cré, como já conhece e reconhece várias formas de escrita – antes, limitadas apenas à letrinhas de forma!  Garoto esperto, esse meu! Os anos de Educação Infantil, passados na Aprendiz, foram incríveis e com muitas mudanças importantes nas nossas vidas. A Escola foi uma parceira de verdade. E as professoras, muito queridas!

Revendo esse caminho até aqui, acho engraçado que minha mãe tenha me ajudado tanto a relaxar das tensões das escolhas, sendo ela a mais preocupada das avós! Foi com ela que aprendi que não faz diferença se João sabe o que é A, B ou C… se ele segue a linha traçada na apostila, ou desvia sinuosamente entre os tracinhos. O que importa é que ele goste da escola, que se relacione bem com os amigos, que respeite as professoras, e mesmo seguindo ordens, que seja criativo para inventar a si mesmo. E que não adianta comparar com o fulano, que já sabe os algorítmos do Google. (Brinks!). Coisas que eu via nas reuniões de pais, ou nas conversas na porta da escola. Eu não me preocupo com isso. Quero mais é saber se João está feliz. Porque todo o resto se resolve daí…

(o amanhã virou hoje enquanto escrevo – ou seja: 0h20 do dia 6 de fecereiro!)

Hoje, João vai atravessar os portões da nova escola e o meu coração não vai ficar apertado, cheio de dúvidas. Mas não vai caber tanta alegria! Porque vai começar um novo capítulo na nossa história – cheio de desafios, descobertas e conquistas. E muita diversão! (na lista de material, baquetas para aula de música, telas para educação artística, legos para oficina! E lá na quinta série, aula de robótica!!!).

06th jan2012

Cirque du Soleil

by Biattrix

O ano começou cheio de boas surpresas!

A minha vida tem mudado muito, e bem rápido. Confesso que não dou muita atenção em como isso impacta a mega-mutante-vida do João. Sim, porque aos 5 anos de idade, tudo muda o tempo todo e as novidades acontecem a cada 5 minutos (embora o tempo pareça andar bem lento, quase arrastado!). E essa falta de atenção é proposital – a vida é assim, e dar muita atenção a isso seria hipervalorizar algo corriqueiro.

Comemoramos as conquistas. E de um tempo para cá, tenho celebrado os erros também!

Errar é fazer.
Errar é mão na massa.
Errar é crescer.
Errar é amadurecer.
Errar faz parte de todo e qualquer processo de aprendizado.

Eu poderia continuar listando tudo o que um erro pode nos oferecer, mas acho que isso já mostra o que penso a respeito.

– Eu já comentei que adoro ouvir meu vizinho errando as notas no Sax? Poizé… adoro. É como se eu acompanhasse sua evolução. No início, as repetições e erros me incomodavam bastante. Depois, mudei o foco e passei a admirar sua persistência, paciência, e horas de dedicação. Nota a nota, ele repete frases inteiras no instrumento, sem evoluir para uma “música” de fato. Até aquela frase estar perfeita no sopro, no ritmo dos dedos, nos ouvidos…

Meu irmão mais novo, padrinho do João, é bem perfeccionista, exigente e  imediatista! Diz querer tocar um instrumento, mas sabe que não teria a paciência necessária para tantos erros. Admiro isso. E odeio também. Desta maneira, ele se priva de tantas alegrias! Embora esse querer seja um dos mais frouxos, aquele querer-querer-quero-não…

Eu fui assim um dia. Não sei ao certo quando mudei e passei a valorizar os erros. Mas lembro do dia exato que a “ficha caiu” e me peguei na área de serviço, debruçada na janela, encantada com as repetições infinitas do sax do meu vizinho. Não vou exagerar, mas o mundo ganhou mais nitidez.

A mesma sensação eu senti na quarta-feira, dia 4 de janeiro, ao prender o ar no instante que um artista do Cirque du Soleil errou o passo.

O espetáculo Varekai é mais bonito do que eu imaginava. A trupe é incrível, além do humano. Com gestos e movimentos que desafiam o cotidiano e os aproximam do que eu imagino Deus.

Assistir ao Cirque du Soleil foi um presentão! A Cris nem imagina a felicidade que nos deu quando deixou dois ingressos na minha portaria. Eu estava ansiosa e um tanto desapontada com a falta de interesse do João. Mas, ó, que delícia ver o rostinho dele mudar espetáculo adentro. Queixo caído, olhos arregalados, inquieto na cadeira, tentando absorver toda aquela informação.

Saímos do espetáculo encantadérrimos e, por mim, posso dizer: foi uma apresentação impecável e inesquecível.

Mas, e aquele erro? Bem, ele não foi o único da noite – precebi mais dois deslizes. Eu seria leviana se dissesse que aqueles três perceptíveis erros comprometeram todo um espetáculo belíssimo. Aliás, leviana não: eu seria muito amarga se pensasse isso…

Então porque deixo aqui registrados os erros? Ora, porque até eles foram lindos! O sorriso do artista ao levantar da queda, sua insistência e garra para tentar de novo… ah! Eu os tomo como lição de vida! E assim, tento mostrar o mesmo para o João.

 

11th set2011

O dedo verde

by Biattrix

Quando criança, eu era muito esquisita.

A menina quietinha, obediente, de olhos verdes e pele branquinha, era – de fato! – uma boneca a ser exibida numa redoma de vidro. Eu fui uma criança de apartamento. Em casa, eu vivia de sapato-de-fivelas (boneca!) e meia 3/4!

 

O oposto exato da minha mãe.

Minha mãe cresceu em casa de quintal, sem luxos, sem geladeira ou TV, com o pé no chão. Quando não  brincava de casinha, pulava carniça, jogava bola de gude, soltava pipa e marimbondo! – Isso mesmo: ma-rim-bon-do. Ela laçava o infeliz, lhe arrancava o ferrão e dava linha… até puxá-lo de volta e continuar a brincadeira! – Mamãe adorava comer frutas no pé, coisa que eu nunca entendi! Fruta suja, com coco de passarinho e teia de aranha, eca!

Não lembro de amar a casa da minha avó, como João adora a dele… Agora, tentando lembrar, só penso no medo que eu sentia quando lá estava. É que vovó morava em uma casa-sítio. Eram seis mangueiras, um bambuzal, e mais um monte de outras espécies: lágrimas-de-nossa-senhora (das continhas eu fazia colares e pulseiras!), babosa, espadas-de-São-Jorge, bananeiras, roseiras, goiabeira, fruta-do-conde (amo!) e mato, e terra, e lama, e pedrinhas! Ah! E bichos, muitos bichos! Cachorro, gato, galinha, ganso, marreco, papaguaio, piriquito, coelho… Mais os insetos. Milhares de insetos moravam naquele ecossistema complexo, que todos insistiam em chamar “casa da vó Cutica”.

Sou esquisita, não?!

Eu tinha medo de mosca, abelha, vespa, besouro, marimbondo, mosquito… mariposa e borboleta. Aliás, resumindo: eu tinha medo de tudo o que voava. E de cachorro, de ganso, do marreco e da galinha. Mas, eu adorava os bichos. Todos, sem exceção. Se todos estivessem nos livros. Isso eu sempre amei! Nunca tive medo de livro grosso e pesado. É que desde os quatro anos eu vivo uma vida virtual, conectada com minhas fantasias, histórias em quadrinhos, heróis, outros países e planetas…

Peraí – entenda: eu ia a praia de havaianas. Mergulhava de havaianas. Não tirava as havaianas dos pés.  Eu não curtia a areia entre os dedos dos pés. Pode?!

Curiosa, sempre procurei saber um pouco sobre quase tudo. Adoro estudar e aprender coisas novas – o que, para mim, representa energia em movimento. Até sei sobre mitologia romana, mas não gravo os nomes das plantas. Ô, dó! Se palmeira ou bananeira, árvore é árvore, e tem também arbusto, moitinha e flores. Pronto.

Sempre perguntei a minha mãe como faria com meu filho.
Como ensiná-lo sobre esse mundão de coisas?

Mamãe é do tipo Tistu. Ela tem o dedo verde. Suas plantinhas estão sempre lindas e bem cuidadas. Ela passa horas no jardim, sabe o nome de tudo o que é planta. Se gosta de sol ou prefere a sombra fresca. Se floresce em maio, setembro ou janeiro… Se é época de morango, caqui, caju, abricó ou abacaxi. Sabe até quando é ananais!

E mesmo morando em apartamento, nossa casa sempre tem muitas flores! O carinho que mamãe tem pelas pessoas, ela dá em dobro as plantinhas. E quando uma nova flor se abre, ela toda sorridente e orgulhosa nos chama para ver… Hoje, eu gosto tanto disso, que muitas vezes me pego relembrando suas caras e bocas a contar sobre um novo botão do seu jardim.

Foi minha mãe quem me deu a muda da Árvore da Felicidade que cresce na minha varanda. Ela me levou à Cobal, me ensinou a escolher o vaso, a terra, o adubo. Replantou a muda, me orientou sobre os cuidados…

E com esses gestos simples, de muito carinho, ela me ajudou a transformar meu apartamento em um lar.

21st ago2011

Docinho de coco

by Biattrix

João é uma criança carinhosa e um tanto gaiata. Mas, como muitas vezes sou uma palhaça, cheia de caras e bocas, modulações de voz e gestos quase caricatos, o filhote tem uma professora particular em casa, 24 horas por dia!

Acho normal seu jeitinho de falar, mas as correlações? Sempre acho graça. Gente, o que são suas explicações? Ele faz analogias incríveis! Mas, como não tenho muito contato com outras crianças, sigo acreditando que todas nascem assim, espertinhas! Meus pais e alguns amigos garantem que não.

Já há alguns dias, ele vem reclamando do meu excesso de trabalho. Diz que fico com os olhos grudados no computador, ou no celular. Em dias de natação, a recomendação é sempre a mesma: “mãe, não vale ficar olhando pro iphone, viu?! É pra me ver na piscina!” Achava que era mais uma implicância da minha mãe do que dele mesmo…

Até uma queixa cair pesada sobre minha cabeça e me desmontar todinha: - mãe, você não brinca comigo!

– Como assim, João, eu não brinco com você? E a saga completa de Star Wars (os SEIS DVDs!!!) que vimos, pelo menos, umas TRÊS vezes?! E a competição de Ninja Fruit???

O pequeno reclamava da falta de brincadeiras, daquelas sentadas no chão, com Bakugans, carrinhos de ferro, heróis e vilões em ataques ferrenhos, jogar bola no play… coisas do dia a dia, que não são programadas, não têm hora ou local certos.

É, eu não brinco com meu filho.

Vamos ao cinema.

Ao parque Lage.

Comer pizza com os amigos. Os meus. (que o adoram! Mas são adultos, amigos meus.)

Eu precisava mudar. Ele, essa criança doce, muito carinhosa, me pediu para mudar. E brincar mais.

Ontem, perdemos a hora brincando… sentados na cama, com uma arena laranja entre as pernas, colocamos nossas BeyBlades para competirem. Fizemos torcida. Simulamos brigas. Implicamos um com o outro, vencedor e derrotado. Inventamos regras, magias para força e concentração, dancinhas de vitória e outras besteiras. Rimos muito. E eu ganhei um novo apelido: docinho de coco.

Às 7 horas da madrugada, João se deita ao meu lado na cama, me cobre de beijinhos e diz: – docinho de coco, vamos acordar? Está na hora da batalha: vamos competir, mãe??

Como resistir?

Depois de punkpanquecas para o café  e uma exibição de air guitar, lutamos como se não houvesse amanhã. Trocamos os disparadores. [break para o almoço] Misturamos as peças para criar BeyBlades mutantes [break para o lanche]. Jogamos Uno, Soletrando e De Onde as coisas vêm?. Lutamos mais um pouco. Perdi feio uma centena de vezes.

Valeu cada minuto! Ganhei o sorriso mais franco.

A gargalhada mais gostosa.

Elogios sinceros”mãe, você nasceu para isso!“.

E o melhor apelido de todos: docinho de coco!

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