20th maio2015

É uma droga, viu?!

by Biattrix

Ontem, a caminho da escola, João e eu conversávamos sobre drogas. Não me lembro o como ou o porquê da conversa começar… tentei falar abertamente sobre o que conheço, com informações suficientes para uma criança de 9 anos, super curiosa e atenta.

O triste é que nosso papo foi ilustrado por uma cena em tempo real: quatro meninos, entre seis e oito anos, talvez, brincavam na praça, em frente ao Edifício Argentina, com uma bicicleta menor que qualquer um deles. Todos carregavam uma garrafinha de água mineral com… solvente.

Edificio-Argentina

Praça em frente ao sinal do Edifício Argentina, em Botafogo.

João observou a cena por tempo suficiente para vê-los repartindo a droga (um dos meninos carregava duas garrafas – uma cheia de solvente e a outra com dois dedinhos do produto). Todos tinham os seus dois dedos de solvente.

É claro que João me perguntou o porquê deles usarem a droga.

Ah, meu filho… são tantas as respostas. E nenhuma é muito fácil ou simples. Eles usam drogas para esquecerem a vida que levam, a violência em casa, ou a falta de uma casa. Usam para matar a fome. Para trazer mais cor ao dia. Para aliviar a dor das porradas. Para esquecer quem são. Para inventarem outra vida… A realidade da família, para eles, é outra bem diferente da nossa. Amor de mãe, de pai, de avó ou tios… não sei se eles sabem o que é isso.

O cuidado passa a ser o instinto de sobrevivência. Cada um por si. Só por hoje. O depois a gente vê, depois. Nem sonhos eles têm. Com o tempo, muitos perdem até a capacidade de sonhar, como alguém um dia comentou comigo e eu, incrédula, chorei.

Ao ver a carinha de interrogação do meu filho, senti como se ele me perguntasse o que eu poderia fazer. Ele ficou sem repostas. Eu queria sair do carro e ir até lá conversar com aqueles meninos, dar um abraço, pagar o almoço… não sei porque não fiz isso. O sinal abriu e os compromissos do dia já estavam gritando.

Sem poder evitar, me sinto egoísta e suja por ser tão omissa. O que fazer?

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